Monday, February 05, 2007

asSIM NÃO pode ser!!!



Como qualquer cidadão, também eu não posso deixar de ter uma opinião sobre este assunto tão controverso que é o aborto, mesmo correndo o risco de esta ser erradamente interpretada como demasiado conservadora. Ainda mais quando falta menos de uma semana para este ser referendado em Portugal.

Este é o pais que se diz em modernização e em que todos os modernismos e outros “ismos”, raramente se traduzem em coisa alguma.
Embalado pelo “choque” que passou a plano tecnológico, o país entra agora numa era de modernização onde até a sociedade tem que se mostrar renovada…
Um pouco por toda a Europa procura dar-se uma imagem vanguardista. No Reino Unido aprovaram-se as uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo, como posteriormente em Espanha.
Seguiu-se a badalada lei anti-tabaco que proíbe que se fume em locais públicos e locais de lazer como é o caso de bares e discotecas. Itália já a implementou…
Esta sim seria uma medida que a longo prazo pouparia milhares de euros ao estado em serviços de saúde. A maior parte dos adolescentes começa por fumar socialmente em discotecas ou bares, normalmente sempre em consequência de uns copos bem bebidos.. Ora, se não se puder fumar nestes espaços, muito menos gente será tentada a experimentar esta sensação, logo a probabilidade de se ganhar tal dependência é muito menor.
Mas não me quero alargar muito mais sobre este assunto porque não é disso que se pretende falar…

No entanto, no que respeita a nós portugueses, todas estas reformas supostamente liberais põem a descoberto uma enorme falta de coragem política deste governo em reformar áreas que não se traduzam num encaixe financeiro imediato para o cofre das finanças…Mais uma vez, governa-se para a legislatura e não para os portugueses.

De facto, há que lembrar que nenhum referendo que se faça em Portugal é de carácter vinculativo, face à nossa constituição. E se neste caso concreto o Governo tiver mesmo interesse em alterar a lei de interrupção voluntária da gravidez(IVG), só tem que elaborar um novo decreto-lei, submete-lo a discussão na a Assembleia da república, aprová-lo pela maioria e depois esperar pela sua promulgação por parte do Presidente da república.
Muito mais simples… poupava o latim aos padres (conservadores por natureza) na igreja, poupava tempo aos movimentos a favor ou contra e acima de tudo poupava os milhares de contos gastos na campanha do referendo e em subsídios aos representantes das mesas de voto espalhadas por todo o país.

Mas não… mais uma vez passou-se a batata quente aos cidadãos que decidem levar a questão muito a sério porque se trata de fazer deste um pais mais liberal, dando a sensação que estamos mais preocupados na aprovação incondicional da liberalização que nas consequências implícitas de tal decisão.

Recentes declarações do nosso Primeiro Ministro não vêm ajudar em nada a decisão livre dos portugueses. Quando alguém vem a publico dizer que caso o Não ganhe não se mexe na Lei pode ser interpretado como um ultimato para apanhar o comboio do SIM liberalizante.

-Num país moderno, as políticas sociais são levadas tão a sério como as economicistas.

-Num país a sério, em vez de se dar peixe a quem não tem que comer, dá-se uma cana e ensina-se a pescar (velho ditado chinês).

-Num país da linha da frente, o planeamento familiar é levado a sério

-Num país responsável, os fundos para subsídios da preguiça dão-se para ajudar a criar os filhos dos mais carenciados. (talvez muito menos pessoas considerassem o aborto)

-Num país que vê as pessoas como tal onde cada um conta e não como meros números estatísticos, existe uma assistência social atenta aos casos de degradação com aconselhamento psicológico e reinserção social.

-Num país virado para as causas, todas as situações excepcionais são devidamente identificadas e têm um tratamento adequado, sendo por isso minoritárias … a maioria da população tem formação cívica, acesso à informação, cultura e bom senso suficientes para prevenir uma interrupção voluntária da VIDA salvo nos casos excepcionais.

-Num pais onde os governantes governam, não se escolhem os caminhos mais fáceis… O direito à vida de cada um não está dependente dos SINS e dos NAOS, mas de todo um conjunto de medidas sustentadas de incentivo à natalidade que em ultima análise reduzem os casos de IVG.

Pois bem, a esta atitude ridícula do governo eu digo NÃO, a este decreto-lei agora referendado eu digo NÃO… aos apoiantes incondicionais do liberalismo só porque é a tendência da moda eu digo NÃO.
Falha a pílula, rasga o preservativo, o diafragma ficou mal posto… A pílula do dia seguinte era para “ontem” ou já se tomou em situações anteriores e pode constituir um caso de risco para a saúde da mulher e causar infertilidade irreversível.. Então passe-se para o aborto. A esta rotina eu digo NÃO.. um NÃO responsável.
A uma legislação aprovada pelo governo que tenha em conta não só a despenalização, e uma interrupção voluntária da gravidez por responsabilização colectiva de médicos, psicólogos, assistentes sociais e decisão final da mãe portadora… a uma decisão bem ponderada e responsável eu digo SIIIIIIIIMMMMM… avance-se então com a despenalização do aborto.

P.S:.. Num pais civilizado as pessoas têm que respeitar as opiniões dos outros porque vivemos em democracia e as pessoas são livres de opinar, por isso se tiverem uma opinião discordante da minha, manifestem-se as vozes discordantes PORRA!!!

a fundamentar o meu pnto de vista...


Monday, October 30, 2006

Deve ser difícil dar à Luz, mas conjugar o verbo "Parir" também não é para todos…

Tudo começou com a dúvida de como pronunciar o verbo “Parir” na terçeira pessoa do plural do presente do indicativo. Qual o meu espanto quando me apercebi que tinha cometido um erro crasso de escrita. Pior ainda. Isso só não iria suceder em duas ocasiões nesse tempo verbal.

Não sou propriamente um expert na língua de Camões… Mas esta minha ignorância em particular, ultrapassou-me por completo, ao ponto de aqui prestar a minha humilde homenagem a personagem que se lembrou de convencionar tal conjugação.

Espero também instruir muuuuitas outras pessoas que de certo não saberiam conjugar verbo tão suigéneris.

Que raio de verbo mais estúpido... Ou se vai parir, ou já se pariu... não é algo que se fassa a todo o momento... este verbo tem mania que é gente e que pode ser conjugado assim sem mais... ainda mais quando uma boa parte das palavras têm outros significados.

Para enunciar o verbo, nada melhor que um pequeno ensaio do quotidiano da idade media e como seria cortejar uma bela senhora noutros tempos em que os “tempos” eram outros, mas as classes raramente se misturavam. Já na altura devia ser dura a vida dos Marialvas Casanovas e afins sem “graveto”

Na altura também já se conhecia o amargo sabor das “tampas”

Clicar aqui para aumentar


E numa altura em que se debatem formas alternativas de transmitir conhecimento de um modo menos enfadonho…Este foi o meu pequeno contributo. Uma aula de gramática alternativa também não faz mal a ninguém...!!!

“E em bom português se escreve o verbo Parir”…lol

Wednesday, October 11, 2006

A carreira de Escalhão (O juizo final)




Ver texto inicial


E se pensamos que as diligências do nosso motorista se ficam por aqui, bem enganados estamos.
Há tempos atrás servi de guia para um colega que se dirigiu à cidade fundada atravéz de foral de por D. Sancho em 1199 .
Procurava-se um parecer clínico de um senhor doutor lá da cidade que se tinha como um expert no seu ramo. E tendo eu nascido nesta cidade, ninguém melhor para servir de guia. Era só um pequeno gesto que não custava nada.
Como a carismática carreira só ia partir dali a três quartos-de-hora, decidi acompanhar o meu colega e assim evitar uma deslocação despropositada só para me levar à estação de camionagem. Decisão aparentemente sensata, não fosse o nosso médico demorar-se no seu parecer.
E quem me ia fazer a mim adivinhar que este senhor falava pelos cotovelos…?! Ele era de facto uma pessoa muito simpática e atenciosa, como já não se vê muito entre os Senhores doutores.
Começou por pegar em questões de cariz político… velhas rivalidades entre cidades que durante anos viveram voltadas de costas, e que agora têm como rastilho a disputa de uma maternidade.
A conversa estava interessante, mas urgia o tal parecer… eu tinha a carreira para apanhar e provavelmente o meu colega também tinha alguma ansiedade em ouvir o medico falar daquilo que lhe competia, ainda mais quanto também ele tinha que fazer uma viagem de regresso a casa.
E como se tratava de uma possível cirurgia, havia que explicar ao pormenor o que se passava recorrendo a fotografias ilustradas. E os desenhos eram tantos que no fim da aula de anatomia improvisada até eu me sentia capaz de realizar a operação.
De facto este médico era uma excelente pessoa e também muito profissional… em demasia, dadas as circunstâncias.
E é claro que os três quartos de hora foram mais que escassos para tanta retórica. Parece que a carreira ia partir sem mim.


Num gesto de grande dignidade, o meu colega ofereceu-se para me ir levar ao meu destino. Mas é claro que eu não podia aceitar tal cortesia como retribuição do meu pequeno gesto.
E já sem esperanças de encontrar o autocarro parado no seu lugar, e ainda assim, dirigimo-nos a toda a pressa para a estação (respeitando sempre os limites de velocidade, claro).
Escusado será dizer que a minha suposição estava certa. Nada de estranhar quando passavam mais de dez minutos da hora de partida.
No entanto saí do carro em direcção a um motorista que acabara de chegar e então com um ar de surpresa, perguntei se a carreira de Escalhão já tinha partido. (farto estava eu de saber que sim… mas não perdia nada... e como se costuma dizer, “quem tem boca vai a Roma”.
O meu destino não era propriamente Roma, mas dada a estrutura fortificada da minha vila quase-natal, bem que poderia ser a metrópole de um grande Império.
O motorista lá se lembrou de contactar o nosso chaufer que prontamente atendeu a chamada (é claro que provavelmente encostou à berma da estrada assinalando devidamente a manobra…nem se esperaria outra coisa..!).
Da conversa entre ambos, lá deu para me aperceber que a nossa carreira já estava nos arredores da Cidade.
Então recebo a agradável informação que o nosso chaufer ia aguardar junto a um posto de abastecimento de combustível até eu chegar.
Em circunstâncias normais era um percurso que, pelos atalhos certos levaria não mais de cinco minutos para se fazer de carro. Então a toda a pressa dirigi-me para o carro e indiquei o caminho até a minha carreira.


Mas parece que a minha sorte estava a mudar. A palavra contratempo fazia agora mais sentido que nunca, quando associada ao fenómeno hora-de-ponta. A cidade que se tem como Fiel, Friar e Formosa, era agora também Farta… de transito. ( Ainda lhe pertencem mais um ou dois F’s consoante o pudor de quem caracteriza)
E o curto percurso acabou por se fazer nuns eternos quinze minutos, que se para mim foram de angústia… nem me atrevo a imaginar qual o adjectivo a usar para o estado de espírito de toda aquela gente que aguardava a chegada de um tal passageiro tão especial que fizera parar a nossa carreira.
Chegados ao ponto de encontro, a coisa mais parecida que encontrei ao meu transporte foram umas miniaturas em brinquedo expostas numa loja dos 300 (1€50).
Lá se tinha ido a minha “boleia a pagar”.


Nestas alturas as certezas tornam-se incertas, por isso decidimos andar mais uns metros, não tivesse a empresa de combustível decidido abrir umas bombas de abastecimento mais à frente de aspecto mais modernizado (mesmo em tempo de crise no sector).
Já numa zona urbanizada, reparo que um “grande da estrada” estava estacionado numa rua transversal ocupando uns quantos lugares de estacionamento para veículos convencionais… só podia ser a minha carreira.
Ainda Incrédulo, saio do carro em direcção ao estranho autocarro. Foi então que reconheci o nosso chaufer. Confesso que naquele instante não sei fiquei envolto num sentimento de alivio se de grande culpa. A única coisa que posso dizer é que quando entrei na dita carreira mal sabia como encarar todas aquelas pessoas que involuntariamente tinham esperado por mim.
Acho que a minha expressão escusava qualquer pedido de desculpas, no entanto ainda me reprimo por não o ter feito… simplesmente não me saia qualquer vocábulo da boca.
Ainda meio atrapalhado lá tirei uns trocos do bolso para comprar o bilhete. Então com a maior da naturalidade e enquanto me fazia os trocos, o chaufer la me foi dizendo: “Então, deixou passar a hora? Quando for assim liga para a central que a gente espera…!” …Ok, sem palavras… Eu à espera de uma tremenda repreensão e o homem sai-se com esta…
Ainda eu não conhecia a craveira do senhor… Talvez agora não me surpreendesse tanto, mas há que reconhecer que este chaufer é um verdadeiro fenómeno de boa disposição.
Depois desta correria atribulada não se passou mais nada de especial…Só passamos dois vermelhos de controlo de velocidade… nos outros parámos! Também a culpa foi de que seguia à nossa frente que cumpriu à regra… Mas não se livraram de ouvir das boas por terem parado!


Por falar em quem seguia à nossa frente, nem quero imaginar a expressão de espanto do condutor do camião que nos atrasou quase todo o percurso quando de repente desaparecemos do “radar”…Sim que o nosso motorista teve a brilhante ideia de “inaugurar” uma nova via que ainda se encontrava fechada ao transito. Só aí recuperamos quase uns dez minutos.
Passar entre a sinalética que proibia não foi problema. Onde passa um carro… passa a nossa carreira. O pobre d camionista é que já não deve ter adormecido sem antes ouvir o ultimo bloco noticioso, não tivesse ocorrido nenhum despiste de autocarro de passageiros. Enfim... logo se recompões.


Escusado será dizer que toda esta situação me deixou super bem disposto.
E em defesa do senhor tenho a dizer o seguinte… Se esperou o tempo que esperou por mim… noutras ocasiões seria bem capaz de voltar atrás caso soubesse que algum passageiro tivesse ficado para trás numa das suas iniciativas de atalhar caminho.
Já agora um “bem haja” ao senhor por não ficado a pé e por me ter deixado ao fundo da minha rua… também por-me à porta de casa era abusar.


A titulo conclusivo gostaria apenas de deixar o meu humilde veredicto quanto à conduta do nosso chaufer:


Ponto um: Pena suapensa com promessa de tentar cumprir o mais possível o trajecto original, evitando saltar muitos vermelhos.
Ponto dois: Excepcionalmente é concedida ao chaufer autorização para parar em local indeviduo com o fim de deixar o “passageiro dos atrasos” ( ou seja, eu) visto que não prejudica o normal fluxo do transito, nem favorece uns em detrimento de outros.

Monday, October 09, 2006

A carreira de Escalhão (A formiga no carreiro)

A imagem “http://img.timeinc.net/time/time100/images/main_chaplin.jpg” contém erros e não pode ser exibida.

Há coisas que merecem ser imortalizadas... E apresentado que está o senhor do pão e as gentes que o sustentam, urge retomar o fio à meada e apanhar a carreira de Escalhão que está quase a partir...

A carreira de Escalhão é de facto o autocarro que serve de meio de transporte a uma mão cheia de ilustres desconhecidos que regressam a casa quase todos os fins-de-semana.
Podia muito bem identificar-se como o expresso que faz a ligação de Lisboa até à vila de Escalhão, mas dadas as enumeras terras onde passa e as características da viagem em si, é preferível preservar o conceito de "Carreira de Escalhão".

Todas as semanas acabam por ser desgastantes, e mesmo que o trabalho não tenha sido muito acabam sempre por emergir todas as pequenas tensões acumuladas características do dia-a-dia vivido entre a comunidade estudantil. Então esta carreira funciona como a primeira fase do fim-de-semana no que diz respeito à reposição de energias.
Não sei se é pelo facto de associar este como o transporte para as origens, se por ser uma Janela panorâmica para os campos envolventes, sempre deslumbrantes mesmo que a “tropeçar em barrocos” , ou se esta carreira tem mesmo magia. O facto é que constitui uma excelente terapia.
E apesar de todas as contrariedades, há dias que parece que regressamos aos nossos primeiros estádios de desenvolvimento onde acreditamos que o mundo gira mesmo à nossa volta e as coisas se conjugam a nosso favor.
Como que adivinhando a minha quase desesperada ansiedade por chegar a casa e para meu espanto, por obra e graça do "Espirito Santo", o condutor decide atalhar caminho.
E tudo o que eu mais queria era, FINALMENTE e depois de todos os imprevistos, experimentar a minha mais recente tecnologia importada dos States. Com um brinquedo novo, havia que chegar a casa quanto antes, jantar, e enfiar-me no meu buncker particular a desventrar e devorar o dito equipamento.

O meu bom senso diz-me que a decisão do chaufer deve constituir uma rara excepção à regra, visto que poderia esporadicamente estar uma pessoa num qualquer ponto de paragem, cujo estado de espírito naquele momento poderia não ser o mais agradável pela longa espera, se comparado com o meu.
Mas aquele não era um veículo qualquer. Este autocarro que nuca iria passar, tratava-se de facto daquele meio de transporte perdido no tempo que dá pelo nome de "Carreira de Escalhão", e hoje tinha que chegar mais cedo ao seu destino porque os DEUSES lá no Olimpo assim o determinaram…

Se o "padeiro não sabia fazer pão, pelo contrario, o nosso Motorista bem merecia as insígnias de "chaufer de Carreira" pois apesar da sua ainda curta quilometragem como condutor de auto-carro, denotava ter uma grande experiência e determinação.
De facto este condutor é mesmo uma pessoa suigéneris… como muitas outras que se cruzam ao longo do tempo pelas nossas vidas.
Nesta carreira, em que os passageiros são quase uma pequena comunidade com ligações entre si, o condutor funciona como o elemento agregante, sempre com uma palavra amiga e cheio de boa disposição.
Este procura saber sempre das novidades e trás noticias frescas lá da terra a estes miúdos, que por força das circunstâncias se vêm obrigados a ir estudar para a cidade. Por lá passam semana após semana para obter a formação escolar indispensável para ir mais além que os seus pais, que na maior parte dos casos vive daquilo que o campo e a generosidade da natureza lhes concede.
Acredito que estes miúdos se sintam quase em casa mal entram na carreira, tal é o convívio e boa disposição que se vive. E não fazendo da miudagem seus criados, lá lhes vai pedindo para entregar as encomendas na oficina, na farmácia ou no quiosque, aligeirando assim o tempo da viagem. E os miúdos colaboram com ele com grande entusiasmo.
Há ainda os idosos que lá vão falando das vinhas, da pedra que caiu do céu e quase estragou as colheitas, dos terrenos que finalmente começam a verdejar e a cevar o gado adelgaçado pela seca persistente.
Só não estão presentes o cabaz com o farnel e o garrafão de tinto... Exigências de uma lei de transportes públicos mais rigorosa que reencaminha toda a trouxa para o porta-bagagem. Também as viagens se tornaram mais rápidas, não havendo por isso necessidade de trazer a bucha para comer na carreira como era habitual até há uma década atrás.

E aos que possam querer julgar o nosso chaufer quanto à decisão deliberada de ignorar uma série de pontos de paragem supostamente obrigatórios, apesar de pouco consciente à primeira impressão, não é totalmente de recriminar. Há que ter em conta que se trata de uma rotina diária, o que faz com que este saiba quase com toda a certeza quem entra, onde entra e quando entra nesta carreira. E perante a curiosidade de alguns dos passageiros, lá se ouviu o motorista dizer que não havia passageiros para aqueles destinos e fulano tal, que todas as sextas entra na Cidade por Foral com destino a Escalhão, desta vez já tinha feito o percurso logo no início da semana.
Absolva-se portanto o motorista e o homem que depois de uma longa semana e muitos quilómetros também merece chegar a casa um pouco mais cedo, procurar o conforto da mulher e dos filhos que provavelmente lhe fazem ter e transmitir esta boa disposição.

...

E quando ainda mal nos conseguimos libertar deste carreiro de formigas, alguém tem a ousadia de deitar uma rotina para trás das costas desafiando os mais cépticos. E já na condição homens livres, damos por nós a pensar no bem que sabem estes pequenos momentos, tão distantes dos padrões de exigência social das sociedades modernas.

“A formiga no carreiro
vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
ao pé de um septuagenário
Lerpou trepou às tábuas
que flutuavam nas águas
e do cimo de uma delas
virou-se para o formigueiro
mudem de rumo
já lá vem outro carreiro”

Se ainda ouver passiência...Ler texto final

A carreira de Escalhão(Considerações preliminares)

A imagem “http://clubsetubalense.pt/06/tcc/Autocarro.jpg” contém erros e não pode ser exibida.

Para localizar no tempo e no espaço os descontextualizados, Escalhão é uma daquelas aldeias perdidas no interior da qual pouco mais conheço senão o pão fresco e saboroso que, em dias certos, fica pendurado à porta da minha moraria e que quase sempre encontro à mesa quando chego de fim-de-semana.


Pois é, estas coisas já não existem...Já não existe a mercearia ao virar da esquina; Já ninguém vende fiado; Não se saúda e trata o "padeiro" pelo nome, quanto mais ouvir aquele ruído quase ensurdecedor do peixeiro que nos tira do sono com os últimos sucessos da musica popular brejeira.
Tudo serve quando se trata de procurar captar a atenção daqueles que pretendem abastecer-se de peixe que vem da lota bem de madrugada e ainda fresco.
Pois...e estas coisas já não existem...Pelo menos perante os olhos e mentes letárgicas desta classe de pessoas que habitam os aglomerados populacionais qual formigas ou nano-robots automatizados e reféns das suas próprias rotinas.

Mas €les é que contam… há de tudo. Transbordam os espectáculos culturais, a noite, o consumo...enfim, os locais que fazem disparar para o abismo ou para as nuvens o barómetro económico lá no governo central…Mas falta o sossego.

Este texto podia muito bem confundir-se com um manifesto anti-urbe, mas prefiro defender com unhas e dentes a ideia que se trata simplesmente de um movimento pró-rural... ou pró-rústico (este nome era mais sonante pretendendo-se deste modo convencer a gostar quem desgosta sem um empurrãozinho de marketing.
Estas coisas do tradicional, rústico, caseiro, original, genuíno, "à moda antiga" são modas, passe a redundância, que estão para ficar. Veja-se o caso do Alentejo... Toda a gente fala bem das suas gentes, dos seus pratos… mesmo desconhecendo.

Pois muito bem, existe um pequeno Alentejo em todos os pontos antípodas às grandes cidades e um pouco de interior em cada pedaço do Alentejo... Existem de facto muitas semelhanças.
O campo e os costumes das suas gentes são como que um género de espécie em vias de extinção que a qualquer momento está sujeita a sofrer o impacto "ambiental" do dito progresso. Talvez o Alentejo se encontre num “Estado de Graça” mais avançado e portanto mais exposto à contaminação por estas ideias supostamente bem intencionadas dos forasteiros.
E poderia entrar em pormenores a cada ideia, a cada palavra, memória/vivência que sugira as gentes de um qualquer interior, que logo surgiriam novos pontos de partida para dar novos rumos… e este texto não teria fim à vista.

Mas ENGANEM-SE aqueles que ao recuar no texto julgam que estas coisas só existem nos contos dos nossos avós. Embora com algumas diferenças, muitas destas práticas ainda são comuns no dia a dia. A mercearia agora passou a minimercado, o peixeiro agora lá vai passando as musicas das novelas da TV(In)dependente... Mas aquele que é conhecido por "padeiro" sem amassar o pão, ainda buzina como ninguém e consegue ensacar o pão com a mesma simpatia de sempre. E esta rotina dura desde que me lembro que sou gente, apenas o veículo de transporte é mais moderno e confortável.

E é bom pensar que há coisas que nunca mudam… e constatar que os anos mal passa por estas gentes.

Saltar para o texto II

Thursday, October 05, 2006

Queremos ver e nada vemos..
Tudo em nós é solidão..
O ser humano diz-se sociàvel...
mas todo ele é solidão...
todos eles estão sozinhos.
refugiam-se nos seus mundos.
Ás vezes são ignorantes
outras julgam-se no direito..
de julgar essa solidão.

Wednesday, July 26, 2006

O prazer de ser diferente



Iguais? Não há pessoas iguais! Somos todos diferentes...
Há talvez pessoas mais diferentes do que as outras. Mas a diferença não é símbolo de fraqueza, e não é, de todo, uma desvantagem.
Deus não quis que fossemos todos iguais.
João era diferente. Ou melhor, era mais uma das diferentes pessoas que existem. No entanto, pela sua débil condição física, não era rotulado como sendo normal.
- Não sou normal? Tanto melhor para mim! – pensava João.
Ser normal numa sociedade como aquela em que vivia não era, no seu entender, motivo de orgulho.
- Ser normal numa sociedade em que o culto do corpo se sobrepõe ao culto do espírito e da mente, em que os valores morais são cada vez mais esquecidos, em que as pessoas esquecem os laços de fraternidade que as une e se espezinham mutuamente em busca da auto-promoção? Não, obrigado. Prefiro mesmo ser diferente! – pensava João.
E Deus também não quis que fossemos todos iguais.
João tinha 25 anos e trabalhava numa empresa de informática. Era hábil com os computadores, percebia todas as manhas desses “bichinhos”, que tantas vezes nos dão volta à cabeça. Conseguia fazer com eles aquilo que a maioria dos mortais não consegue. Diziam que ele era diferente. Sim, era! Mas era-o para melhor…
E Deus também não quis que fossemos todos iguais.
- Coitadinho, que triste sina! – pensavam os outros.
- Coitados daqueles que andam perdidos na vida e não conseguem, ou não querem, encontrar um rumo. – pensava João.
Mas João não se limitava a pensar, João agia mesmo! Era um membro activo da sociedade em que vivia.
Tentava ajudar, com os seus meios, aqueles que, para ele, eram realmente diferentes. Lançava campanhas de angariação de fundos, na Internet, para beneficiar associações e instituições de caridade; informava sobre temas e comportamentos de risco; propunha actividades lúdicas para ocupar os jovens e colaborava com um jornal local, escrevendo, de quando em vez, alguns artigos sobre questões que achava pertinentes.
- Se apenas tivesse sido apanhado de soslaio pelo carro, talvez ainda fosse uma pessoa normal! – pensavam os outros.
- “Soslaio”! Que palavra tão bonita e tão poucas vezes empregue! Que desperdício! – pensava João.
João era diferente.
Mas Deus também não quis que fossemos todos iguais.
João tentava aproveitar tudo o que de bom a vida lhe poderia oferecer. Sim, porque João era diferente mas estava vivo. E ele gostava de viver. E gostava de transmitir aos outros o seu gosto pela vida.
Tinha sempre pronta uma palavra de alento para com o próximo, um “olá”, um “bom dia” para com aqueles que encontrava na rua, um “adoro-te”, um “obrigado por existires” para com aqueles que lhe eram mais queridos. Porque a vida é feita de pequenos nadas…
Ele era, sem dúvida, diferente.
Mas, se Deus quisesse que fossemos todos iguais, então, concerteza, todos seríamos como o João!

Wednesday, July 19, 2006

Os nomes do tempo...



Há dias e dias, existem boas e más horas, ninguém escapa ao passar do tempo.
Verdade seja dita, tudo é mutável, todas as pessoas se vão tornando diferentes à medida que os anos passam. A nossa personalidade é volúvel, o nosso corpo é um veículo que sofre o desgaste do percurso. Mas mesmo tendo consciência disso, teimamos em rotular e agrupar num mesmo escalão certas coisas passíveis de evoluírem em sentidos diferentes.
Uma delas, e que sempre me intrigou, são os dias da semana. Um ano tem 365 dias mas apenas lhes atribuímos 7 nomes. Ou seja, há dezenas de dias que são considerados iguais. Será que são mesmo? E porquê o uso desta regra?
Talvez seja a necessidade, como seres de inteligência superior, de organização e simplificação das tarefas quotidianas. Cada dia está marcado para uma determinada função e evento. E esta é, sem dúvida, a melhor explicação que encontro para que, a coisas tão diferentes, lhes possamos atribuir o mesmo nome.
Como todos sabemos, o primeiro dia da semana é o domingo, destinado ao descanso e, entre os cristãos, ao culto do Senhor. Mas o que para uns pode ser um dia de descanso e paz, para outros pode ser cinzento e triste. Ou seja, não existe apenas um, existem tantos quantas pessoas por ele passam. E mesmo que o da próxima semana seja um dia para nós completamente diferente, continua a ser apenas o domingo, tal como todos os outros que vão preenchendo o calendário, e que, concerteza, alguma coisa de singular trarão.
O segundo dia da semana, embora na prática seja, hoje em dia, considerado como o primeiro, é a segunda-feira. É normalmente considerado como um dia melancólico, mesmo que brilhe o sol, pois nele se inicia mais uma semana de rotina laboral. Tal como diz o velho ditado, “sábado feira, domingo missa e segunda com preguiça”. Mas, noutra semana, pode ser uma jornada de motivação, que depois de um descanso merecido, lhes dá força, criatividade e empenho para fazerem aquilo em que acreditam. Contudo, todos estes dias têm apenas o simples rótulo de segunda-feira.
O dia que se segue é a terça-feira. Odiado pelos pessimistas, adorado pelos optimistas, indiferente aos restantes. Mas todos eles, pessimistas, optimistas, restantes, vão trocando posições, dependendo do estado de espírito e das situações que a terça-feira lhes traz.
A quarta-feira é um dia peculiar. Costuma-se dizer que “no meio é que está a virtude”. Mas será que o vencedor da lotaria concorda que este é um dia de sorte quando, na semana seguinte, no chamado mesmo dia, perde toda a sua fortuna no jogo?
Quinta-feira, 27 de Maio, luz ao fundo do túnel. A semana de trabalho está na recta final. Os estudantes universitários aproveitam para sair e se divertirem. O trabalhador acaba de receber o seu salário e tem projectos para investir parte dele durante o fim-de-semana. Quinta-feira, 17 de Junho, o dinheiro acabou, exactamente no mesmo dia da semana em que entrou.
O sexto dia da semana é um dia de contradições. É relaxante porque nos apercebemos que estamos a chegar ao final da semana de trabalho. Mas, por outro lado, é pleno de stress e ansiedade porque, como diz o povo, “nunca mais é sábado”. E, para muitos, o melhor deste dia é, sem dúvida, a noite. Enquanto que para o guarda-nocturno a noite significa, apenas, trabalho. Mas continua a ser sexta-feira para todos.
Chegámos ao fim com o sábado. Descanso para uns, trabalho para outros. Sol no Brasil, chuva em Portugal. No fundo, não passa do último dia da semana, tão diferente das outras semanas, ao qual insistimos em dar o mesmo nome.
Esta classificação, prática, por um lado, utópica, por outro, foi a maneira que arranjámos de dar nome ao tempo. Mas o tempo, cada um de nós é que o faz, dependendo da maneira como passamos por ele.
E como diria Jorge Palma: “O tempo não sabe a nada, o tempo não tem razão. O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção. Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós. Meu amor, o tempo somos nós…”