Wednesday, July 26, 2006

O prazer de ser diferente



Iguais? Não há pessoas iguais! Somos todos diferentes...
Há talvez pessoas mais diferentes do que as outras. Mas a diferença não é símbolo de fraqueza, e não é, de todo, uma desvantagem.
Deus não quis que fossemos todos iguais.
João era diferente. Ou melhor, era mais uma das diferentes pessoas que existem. No entanto, pela sua débil condição física, não era rotulado como sendo normal.
- Não sou normal? Tanto melhor para mim! – pensava João.
Ser normal numa sociedade como aquela em que vivia não era, no seu entender, motivo de orgulho.
- Ser normal numa sociedade em que o culto do corpo se sobrepõe ao culto do espírito e da mente, em que os valores morais são cada vez mais esquecidos, em que as pessoas esquecem os laços de fraternidade que as une e se espezinham mutuamente em busca da auto-promoção? Não, obrigado. Prefiro mesmo ser diferente! – pensava João.
E Deus também não quis que fossemos todos iguais.
João tinha 25 anos e trabalhava numa empresa de informática. Era hábil com os computadores, percebia todas as manhas desses “bichinhos”, que tantas vezes nos dão volta à cabeça. Conseguia fazer com eles aquilo que a maioria dos mortais não consegue. Diziam que ele era diferente. Sim, era! Mas era-o para melhor…
E Deus também não quis que fossemos todos iguais.
- Coitadinho, que triste sina! – pensavam os outros.
- Coitados daqueles que andam perdidos na vida e não conseguem, ou não querem, encontrar um rumo. – pensava João.
Mas João não se limitava a pensar, João agia mesmo! Era um membro activo da sociedade em que vivia.
Tentava ajudar, com os seus meios, aqueles que, para ele, eram realmente diferentes. Lançava campanhas de angariação de fundos, na Internet, para beneficiar associações e instituições de caridade; informava sobre temas e comportamentos de risco; propunha actividades lúdicas para ocupar os jovens e colaborava com um jornal local, escrevendo, de quando em vez, alguns artigos sobre questões que achava pertinentes.
- Se apenas tivesse sido apanhado de soslaio pelo carro, talvez ainda fosse uma pessoa normal! – pensavam os outros.
- “Soslaio”! Que palavra tão bonita e tão poucas vezes empregue! Que desperdício! – pensava João.
João era diferente.
Mas Deus também não quis que fossemos todos iguais.
João tentava aproveitar tudo o que de bom a vida lhe poderia oferecer. Sim, porque João era diferente mas estava vivo. E ele gostava de viver. E gostava de transmitir aos outros o seu gosto pela vida.
Tinha sempre pronta uma palavra de alento para com o próximo, um “olá”, um “bom dia” para com aqueles que encontrava na rua, um “adoro-te”, um “obrigado por existires” para com aqueles que lhe eram mais queridos. Porque a vida é feita de pequenos nadas…
Ele era, sem dúvida, diferente.
Mas, se Deus quisesse que fossemos todos iguais, então, concerteza, todos seríamos como o João!

Wednesday, July 19, 2006

Os nomes do tempo...



Há dias e dias, existem boas e más horas, ninguém escapa ao passar do tempo.
Verdade seja dita, tudo é mutável, todas as pessoas se vão tornando diferentes à medida que os anos passam. A nossa personalidade é volúvel, o nosso corpo é um veículo que sofre o desgaste do percurso. Mas mesmo tendo consciência disso, teimamos em rotular e agrupar num mesmo escalão certas coisas passíveis de evoluírem em sentidos diferentes.
Uma delas, e que sempre me intrigou, são os dias da semana. Um ano tem 365 dias mas apenas lhes atribuímos 7 nomes. Ou seja, há dezenas de dias que são considerados iguais. Será que são mesmo? E porquê o uso desta regra?
Talvez seja a necessidade, como seres de inteligência superior, de organização e simplificação das tarefas quotidianas. Cada dia está marcado para uma determinada função e evento. E esta é, sem dúvida, a melhor explicação que encontro para que, a coisas tão diferentes, lhes possamos atribuir o mesmo nome.
Como todos sabemos, o primeiro dia da semana é o domingo, destinado ao descanso e, entre os cristãos, ao culto do Senhor. Mas o que para uns pode ser um dia de descanso e paz, para outros pode ser cinzento e triste. Ou seja, não existe apenas um, existem tantos quantas pessoas por ele passam. E mesmo que o da próxima semana seja um dia para nós completamente diferente, continua a ser apenas o domingo, tal como todos os outros que vão preenchendo o calendário, e que, concerteza, alguma coisa de singular trarão.
O segundo dia da semana, embora na prática seja, hoje em dia, considerado como o primeiro, é a segunda-feira. É normalmente considerado como um dia melancólico, mesmo que brilhe o sol, pois nele se inicia mais uma semana de rotina laboral. Tal como diz o velho ditado, “sábado feira, domingo missa e segunda com preguiça”. Mas, noutra semana, pode ser uma jornada de motivação, que depois de um descanso merecido, lhes dá força, criatividade e empenho para fazerem aquilo em que acreditam. Contudo, todos estes dias têm apenas o simples rótulo de segunda-feira.
O dia que se segue é a terça-feira. Odiado pelos pessimistas, adorado pelos optimistas, indiferente aos restantes. Mas todos eles, pessimistas, optimistas, restantes, vão trocando posições, dependendo do estado de espírito e das situações que a terça-feira lhes traz.
A quarta-feira é um dia peculiar. Costuma-se dizer que “no meio é que está a virtude”. Mas será que o vencedor da lotaria concorda que este é um dia de sorte quando, na semana seguinte, no chamado mesmo dia, perde toda a sua fortuna no jogo?
Quinta-feira, 27 de Maio, luz ao fundo do túnel. A semana de trabalho está na recta final. Os estudantes universitários aproveitam para sair e se divertirem. O trabalhador acaba de receber o seu salário e tem projectos para investir parte dele durante o fim-de-semana. Quinta-feira, 17 de Junho, o dinheiro acabou, exactamente no mesmo dia da semana em que entrou.
O sexto dia da semana é um dia de contradições. É relaxante porque nos apercebemos que estamos a chegar ao final da semana de trabalho. Mas, por outro lado, é pleno de stress e ansiedade porque, como diz o povo, “nunca mais é sábado”. E, para muitos, o melhor deste dia é, sem dúvida, a noite. Enquanto que para o guarda-nocturno a noite significa, apenas, trabalho. Mas continua a ser sexta-feira para todos.
Chegámos ao fim com o sábado. Descanso para uns, trabalho para outros. Sol no Brasil, chuva em Portugal. No fundo, não passa do último dia da semana, tão diferente das outras semanas, ao qual insistimos em dar o mesmo nome.
Esta classificação, prática, por um lado, utópica, por outro, foi a maneira que arranjámos de dar nome ao tempo. Mas o tempo, cada um de nós é que o faz, dependendo da maneira como passamos por ele.
E como diria Jorge Palma: “O tempo não sabe a nada, o tempo não tem razão. O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção. Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós. Meu amor, o tempo somos nós…”

Tuesday, July 18, 2006

Por falar em bons costumes…


As vezes uma pessoa dá por si a reparar em pequenos pormenores curiosos. Há situações que se passam enumeras vezes mesmo à frente dos nossos olhos mas que de tão insignificante, nem reparamos nelas. Até que um dia, vá-se lá saber porquê, acabamos por nos aperceber delas. Há dias que o nosso sentido observador está mais apurado para certos pormenores, no mínimo curiosos.
De facto a noite tem destas coisas. Bebem-se umas imperiais e quando damos por ela, lá estamos nós a fazer o percurso até ao WC.
E depois daquele momento de alívio que causa a libertação de ureia e outras substâncias tóxicas via mictória, segue-se a ida ao lavatório para lavar as mãos. E aí surge a situação intrigante…!

Julgava eu que os lavatórios serviam para uma pessoa lavar as mãos depois de urinar… Mas pelos vistos não…?! Se calhar a agua serve apenas para retocar o gel do cabelo frente ao espelho…
Mas o curioso é que só uma em cada dez pessoas é que deve lavar as mãos depois de ir à casa de banho.
E aí surge a minha primeira interrogação. Será que perdi alguma daquelas lições para aspirar a macho ibérico que dizia que não se deve lavar as mãos depois de ir à casa de banho…?! E quanto mais penso nisso mais intrigado fico acerca dos porquês.
E então dou por mim a divagar quanto a possíveis razões. E a minha justificação mais lógica remete-me a questões da natureza selvagem.
Será que tal como os animais, também nós usamos o (fe)odor da urina para libertar as tais hormonas que atraem as fêmeas?! Esta é a razão mais plausível.

Era bom que assim fosse efectivamente, uma vez que o facto de termos enumeros comportamentos irracionais poderia justificar muitas das nossas atitudes que o sexo oposto nos aponta como deploráveis.
Se realmente formos vítimas dos nossos instintos, estes são condição suficiente para ilibar os nossos actos de infidelidade supostamente involuntários. Afinal de contas nós só estamos a procurar uma boa progenitora para fecundar e criar os nossos descendentes. É a sobrevivência da espécie que está em causa e não o simples acto de não-exclusividade.
Se formos analisar bem as coisas, só no aspecto moral é que o acto pode ser repreensível, mas uma vez que supostamente não temos controlo sobre todos os comportamentos… então que ninguém nos aponte um dedo que seja!


No entanto as vezes dou por mim a pensar..”Hoje vou ser como os outros nove gajos…saio do urinol directo para a pista que elas não me vão largar mais a noite toda!”
E depois destes momentos raros de insanidade volto a cair no meu “eu” mais social e chego à conclusão que é um disparate pensar nestas pequenas coisas do dia a dia, quanto mais dedicar-lhes espaço num “sitio” que aspira a blog.
Mas vendo as coisas pelo lado positivo: Antes reparar nestes pormenores, que meter conversa com o colega do urinol do lado ou fazer comparações de virilidade.


E para que as presumíveis leitoras do sexo mais”pestenheiro” e repreensivo que repodia estas coisas, não fiquem escandalizadas!
Já basta o retraídas (para não dizer retrógradas) que são em relação a países nórdicos mais open mind… vejam lá agora não saiam para a noite envoltas num qualquer preservativo gigante. Nos também não vamos servir cachorros ou bifanas depois do acto.

Mas há que ver que a amostra populacional sobre a qual foi feita esta estatística não é assim tão significativa e talvez um pouco condicionada pelo efeito do álcool. Logo pode ser uma má análise da minha parte, por isso não fujam ainda mais que o habitual quando a gente procura o contacto directo…

E que nem Poncio Pilatos se dirigiu à multidão, também eu “lavo daqui as minhas mãos” reiterando que se pode ter tratado apenas de casos pontuais.

Sunday, July 16, 2006

O meu primeiro post :)

Não é apenas um BOM COSTUME mas sim O MELHOR deles, o (f)acto de me embebedar pela tarde sentado em esplanadas à beira rio (neste caso o Tejo), em épocas da vida em que A MORAL está abaixo da linha de água.
Por isso, aqui fica o meu pequeno e confuso contributo:


O bar da D. Luz


Perco-me no tempo, mergulho na imensidão dum pequeno livro. Afogo-me no reflexo dourado dum copo alto, cada vez mais baixo, até que desaparece e é rendido por outro.
As pessoas arrastam-se, sozinhas, na multidão.
Minto aos outros e a mim mesmo, até que acredito que vivo nessa mentira.
- “Boa tarde D. Luz” – diz um velho e enegrecido homem, que apenas se mantém erecto devido à firmeza de duas canadianas.
- “Pensei que já estavas morto” – diz a Dona que absorve mais Luz do que irradia, talvez pelas manchas escuras e opacas que ostenta na arrepiante cabeleira desleixada que transporta.
Outra multidão que arrasta pessoas solitárias, de uma margem para a outra.
- “Esta semana já morri seis vezes” – diz o amadurecido canceroso portador das muletas. (Mas será que algum dia esteve vivo?)
E ela enche mais uma garrafa duma água fétida, para acompanhar a difícil digestão doutra água ainda mais turva, servida numa pequena chávena branca, suportada por um pires. Triste sina, a do pires…
Outro apito, outro mar de gente que começa e acaba de atravessar o rio.
E ela suja as mãos na conspurcada água que jorra da torneira. E depois vai deixando as pequenas partículas purulentas nos pratos, chávenas e copos, cada vez que lhes toca, até ter que molhar as mãos de novo.
A empregada, desnorteada, muito a sudoeste do seu país de origem, fragmenta em pedaços a vida de um copo, que provavelmente nasceu na Marinha Grande. Uma coisa é certa, morreu no Cais do Sodré, tal como o preto que, esta semana, já ressuscitou seis vezes.
Outro casal de turistas, ofuscados pela energia luminosa que a D. Luz absorve. – “Que bom seria viver aqui” – pensam eles com uma estúpida inocência.
E mais um viciado que troca pensos rápidos por chapas metálicas.
- “Aqui estão mais duas torres loiras dispostas a dispensar umas moedas que ajudam a imortalizar o vício” – é a informação que atravessa as poucas sinapses activas daquilo a que já se chamou um cérebro, na cabeça do drogado.
E a D. Luz canta: - “Eu vi um sapo, a encher o papo…”
Entra uma radiosa e alta mulher, ajudada pelos saltos dos seus bicudos sapatos, triunfante pela luz que irradia, e que a Dona absorve, daquelas que só mostra a secreta vagina a homens dourados pelo reflexo dos botões de punho dos fraques que usam.
E eu fecho o livro, e deixo-me arrastar pela multidão, antes que tenha a mesma sorte que o copo.